Registros da portaria do Senado revelam os passos de Zuleido Soares Veras, dono da construtora Gautama, naquela Casa. O empresário e seus comandados bateram à porta de senadores pelo menos 21 vezes nos 12 meses que antecederam a Operação Navalha, ação da Polícia Federal que, em maio de 2007, desarticulou esquema de fraudes em licitações e resultou em ação penal contra 61 pessoas que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O material inédito obtido pelo Correio é uma mostra de como o grupo corria atrás de lastro político para conquistar negócios milionários e se manter à frente deles.Entre maio de 2006 e abril do ano passado, pouco antes de a PF acusá-los de pilhar licitações com dinheiro do governo federal, Zuleido e seus funcionários Flávio Henrique Abdelnur Candelot, Geraldo Magela Fernandes da Rocha e Rosevaldo Pereira de Melo se identificaram na portaria do Senado e informaram que iriam aos gabinetes de Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), Gilvam Borges (PMDB-AP), João Tenório (PSDB-AL), João Ribeiro (PR-TO) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).Em quatro ocasiões, os seguranças que controlam a entrada de visitantes registraram apenas o andar — no caso, o 17º do Anexo I (onde funcionam a Assessoria Parlamentar da Casa Civil da Presidência da República e a Liderança do PP) e o 18º também do Anexo I (onde está instalado o gabinete do senador Gilvam Borges).Cinco visitasSegundo o levantamento, o gabinete de Romero Jucá, líder do governo na Casa, foi procurado cinco vezes — duas por Zuleido e outras três por Geraldo Magela, que, no passado, chegou a atuar como assessor do parlamentar. Na época das visitas, segundo os relatórios de inteligência da PF, Magela estaria atuando nos bastidores em prol dos negócios de Zuleido. O assessor, que teve a casa revistada por agentes federais, trabalhou também como assessor do ex-governador do Maranhão José Reinaldo, um dos denunciados pelo Ministério Público Federal ao STJ, por suposto envolvimento no esquema.Parte dos gabinetes supostamente visitados por Zuleido e companhia pertence a parlamentares eleitos por estados onde o dono da Gautama mantinha negócios. No caso dos alagoanos Renan Calheiros e João Tenório, a empreiteira era responsável pela construção de barragem no Rio Pratagy, num contrato orçado em R$ 77,8 milhões com dinheiro do Ministério da Integração Nacional.A PF identificou indícios do “desvio dos recursos públicos” por meio de “sobrepreço no orçamento, de superfaturamento das obras contratadas e de pagamentos feitos indevidamente à construtora Gautama”, segundo a denúncia do Ministério Público Federal. O governador de Alagoas, TeotônioVilela (PSDB), que, após eleito, deixou a vaga para o primeiro suplente João Tenório, foi denunciado ao STJ.No Amapá, Zuleido tocava as obras do aeroporto de Macapá, interrompidas após a Operação Navalha. Às 13h13 de 10 de abril de 2007, uma terça-feira, um mês antes da ação policial, a portaria do Senado registrou a entrada de Zuleido e Flávio Candelot. Juntos, os dois informaram na recepção que iriam ao gabinete de Gilvam Borges. Zuleido ainda teria ido ao 18º andar do Anexo I, onde funciona o gabinete de Gilvam, em dois horários no mesmo dia, 27 de março daquele ano.Na quinta-feira passada, o Correio procurou, por telefone, os gabinetes dos senadores que tiveram os nomes citados no material da portaria. Foi enviado também pedido de informação por e-mail. A assessoria de João Tenório confirmou a ida de Zuleido ao gabinete em 26 de abril do ano passado, mas o encontro seria com o governador Teotônio Vilela, que estava em Brasília.NegativaAssessores de Gilvam Borges informaram que o parlamentar nunca recebeu Zuleido ou qualquer um de seus prepostos. A assessoria de João Ribeiro informou que não há qualquer menção no gabinete à presença de Flávio Candelot, que se registrou na portaria do Senado em 24 e 28 de novembro de 2006, tendo como suposto destino o gabinete do parlamentar de Tocantins.O sergipano Antonio Carlos Valadares disse que não recebeu ninguém da Gautama na data registrada no levantamento. “Nunca estive com Zuleido ou seus representantes”, afirmou. A Gautama também tinha obras com dinheiro do governo federal em Sergipe, onde a PF identificou irregularidades nos contratos. Jucá e Renan não responderam.61 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suposto envolvimento nas fraudes em licitações públicasR$ 153,2 milhões é o total do prejuízo apurado em contratos de obras executadas pela Gautama em vários estados, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU)Esquema milionárioA Operação Navalha desbaratou, em 17 de maio do ano passado, um milionário esquema de desvio de verbas públicas. Segundo as investigações, o golpe era comandado por Zuleido Veras e a empreiteira Gautama, escolhida em licitações para cuidar de obras com recursos federais. A PF levantou indícios de que as concorrências eram fraudadas com a participação de servidores públicos.Durante a ação, que ocorreu em Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e no Distrito Federal, 48 pessoas foram presas, entre empresários, prefeitos, o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares, o ex-deputado distrital Pedro Passos (PMDB) e Ivo Almeida, então assessor especial do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau.As suspeitas contra Ivo terminaram por envolver Silas, afastado das funções depois do escândalo. A Polícia Federal monitorou a ida da diretora financeira da Gautama, Maria de Fátima Palmeira, ao Ministério de Minas e Energia em março passado, ocasião em que Ivo teria recebido dinheiro da funcionária de Zuleido Veras. Todos negam que tenha ocorrido a transação.Os indiciados foram acusados de crimes como tráfico de influência, fraude em licitações, superfaturamento de obras e desvio de dinheiro. O inquérito tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).Para obter vantagem nas licitações para obras públicas, segundo a PF, a empresa pagava propina e dava presentes a autoridades. Toneladas de documentos foram apreendidas durante a operação.Em 13 de maio passado, um ano depois da ação policial, o Ministério Público Federal enviou ao STJ ação penal contra os governadores do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), o ex-ministro Silas Rondeau e outras 58 pessoas, entre elas Zuleido Veras, acusadas de envolvimento no esquema de corrupção.
por Correio Brasiliense
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