O cenário político de Sergipe mostra uma evidente falta de bases programáticas e ideológicas aos partidos e políticos. Prevalece o oportunismo no seu sentido mais puro. Nem mesmo a alteração traduzida na eleição de Marcelo Déda (PT) ao governo do Estado, a qual rompeu um ciclo de mais de 40 anos
O Governo Déda, no entanto, tem produzido movimentos contraditórios e conflitantes entre as forças políticas e sociais. Tem assumido orientação de centro-esquerda e busca a governabilidade baseado na constituição de uma maioria parlamentar e de alianças com setores conservadores das elites do Estado. Estes, por sua vez, buscam a perpetuação de práticas e o poder no Estado.
A ampliação da política de alianças tende a agravar ainda mais as contradições já evidenciadas. Para quem já havia conseguido compor aliança com Amorim - que controla pelo menos dois partidos políticos (PSC e PR), André Moura, dos escândalos de Pirambu e da Navalha, poderia não ter surpresa nenhuma com a chegada de novos aliados, a exemplo de João Fontes (PPS), que após ser expulso do PT desferiu uma série de acusações (Partido do Mensalão, do Dólar na Cueca, da Micareta Picareta) e Zé Franco (prefeito de Nossa Senhora do Socorro, que foi preso durante a Operação Fox, realizada pela Polícia Federal em 18 de julho de 2006, quando também foram presas 35 pessoas acusadas de envolvimento em esquemas de fraude de licitações e desvio de verbas federais destinadas às áreas de Educação e Saúde).
Vale registrar que, à época, foram presos oito prefeitos: um de Alagoas, um da Bahia e seis de Sergipe - Nossa Senhora do Socorro, José Franco Sobrinho (PPS); Rosário do Catete, Laércio Passos (PMDB); Poço Verde, Antônio Dorea (PSB); Siriri, Valdomiro Santos (PL); São Domingos, Hélio Mecenas (PFL); e Cedro de São João, Marcos Santana (PTB).
Agora, para reeleger Edvaldo Nogueira (PCdoB) prefeito de Aracaju, buscou também aliar-se com o PSDB do ex-governador e deputado federal Albano Franco. O mesmo que privatizou a Energipe e torrou cerca de U$ 500 milhões de dólares dos cofres públicos. Que vendeu as carteiras imobiliárias da CEHOP e do IPES. Comenta-se ainda de uma possível aliança com os Mandarinos em Itaporanga d´Ajuda, do deputado estadual César Mandarino (PSC) e seu irmão Vitor Mandarino, que foi presidente da Deso e que está indiciado pelo esquema Gualtama desbaratado durante a Operação Navalha.
Quem imaginaria ver João Fontes junto a quem ele mesmo chamou de mensaleiros? E Zé Franco? Será que foi vítima de perseguição? Albano fez tudo o que fez em defesa de Sergipe e do seu povo? Mandarino é inocente? Apenas cumpria ordens?
Em meio a esse turbilhão, percebe-se que depois de um ano e meio de governo, este não conseguiu imprimir a marca da mudança pregada durante o período eleitoral. Nem mesmo no que se refere à apuração de denúncia de possíveis irregularidades praticadas no governo passado. Fatos que chamaram a atenção da opinião pública como: o desvio de mais de 120 toneladas de carne da merenda escolar, a transposição (desvio) de recursos da Deso e do Banese, as operações de empréstimos realizadas pela Deso, o escândalo envolvendo a Construtora Gualtama que resultou na Operação Navalha da Polícia Federal e na Denúncia na Justiça do Ministério Público Federal de onze envolvidos nesses escândalos que custou aos cofres do Estado de Sergipe R$ 178 milhões de reais, dentre outros. Até mesmo a realização de uma simples auditoria anunciada pela Deso para apurar possíveis irregularidades, inicialmente suspensa por determinação do Tribunal de Contas do Estado, não teve até o momento a divulgação de qualquer resultado.
Enfim, o governo Déda acaba por adotar práticas combatidas por ele mesmo no passado, como é o caso do complemento de remuneração do secretariado via acumulação de jetons por participação nos conselhos das empresas e órgãos do Estado.
Em relação aos movimentos sociais, é preciso se registrar a ação pitoresca e circense de colocar banda de música para despejo de sem-teto e da truculência da ação da Polícia Militar para impedir uma manifestação legítima de estudantes do Colégio Dom Luciano e no despejo de sem-teto da área do antigo Kartódromo.
Este é um cenário que somente favorece ao processo de despolitização e de fragmentação da esquerda, cujos reflexos podem ser incalculáveis para o futuro.
Estes são os grandes desafios das forças de esquerda a serem superados. Inverter prioridades, de modo que estas estejam conectadas com os verdadeiros anseios do povo e rechaçar alianças de cunho oportunista e desconectado programática e ideologicamente, aliado ao combate a impunidade e a defesa do patrimônio e dos serviços públicos. Caso contrário, prevalecerá à lógica do eleitoralismo da personificação de projetos de onde se recepcionam aliados genéricos e transformam companheiros em transgênicos, dentro de uma lógica tradicionalista de fazer política e administrar a coisa pública somente com o sentido de fazer composições como meio para manter-se no poder. Já o projeto de mudança dá lugar à lógica de tocar obras, implantar novos serviços ou de melhorar os já existentes, sem que, estruturalmente, nada mude.
Por Antônio Carlos Góis - Presidente estadual da CUT
Publicado no Jornal do Dia
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