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quarta-feira, 30 de março de 2011

PREFEITOS QUEREM DIALÓGO COM DEDA SOBRE A OBRA DE DUPLICAÇÃO DA BR-101

Em entrevista coletiva realizada na manhã de ontem (29), na Associação dos Municípios da Barra do Cotinguiba e Vale do Japaratuba, em Aracaju, os prefeitos Anderson Fontes Farias (Umbaúba) e Raimundo da Silva Leal (Cristinápolis) voltaram a mostrar sua preocupação com a possibilidade da duplicação da BR-101, que corta as duas cidades, passar por fora da área urbana. De acordo com eles, o desvio prejudicaria centenas de famílias que hoje sobrevivem do comércio na rodovia federal. O presidente da Associação dos Municípios do Centro-Sul (Amurces) e prefeito de Poço Verde, Antônio da Fonseca Dórea, também esteve presente.
A Secretaria de Estado da Infraestrutura, através do secretário Valmor Barbosa, tem defendido, publicamente, o desvio, alegando maior comodidade para os motoristas e segurança para a população.
Anderson Farias deixou claro na coletiva que em nenhum momento procurou polemizar o tema junto a assessores do governo, mas disse que tem estranhado a forma como o secretário tem conduzido esse processo. “Em 2009, assim que soubemos da duplicação, estive com Padre Raimundo no DNIT que nos informou que aquele trecho, entre Estância e Cristinápolis, na divisa com a Bahia, não seria de sua responsabilidade. Procurarmos o DER na pessoa do ex-presidente Ézio Faro e agora Antônio Vasconcelos, e as informações sempre foram as mesmas, que a última palavra é do governador Marcelo Déda”, revelou.
O prefeito de Umbaúba lamentou que desde que o assunto se tornou público, Valmor Barbosa tenha mudado de discurso várias vezes. “A primeira justificativa para o desvio do secretário foi que o Ibama não aprovaria devido à poluição sonora na zona urbana. Depois veio à imprensa justificar o alto preço das desapropriações. Agora diz que está preocupado com os acidentes. E ontem mudou novamente afirmando que tem que fazer uma obra seguindo os padrões norte-americanos, europeus. Enfim, muda de discurso a partir do momento que a gente rebate cada colocação apresentada”, disse.
FALTA O PROJETOAnderson Farias garantiu que ainda não há nenhum projeto do governo estadual apontando a viabilidade técnica da obra por fora dos dois municípios. “Desafio o secretário a mostrar, com documentos, o valor exato das indenizações, os impactos ambiental, econômico e social da obra por fora de Umbaúba e Cristinápolis. Nosso desejo não é barrar o desenvolvimento da região, mas queremos, acima de tudo, o diálogo, que as pessoas sejam convidadas a discutir o projeto e que até sejam convencidas. Agora, não podemos aceitar a forma desastrada e arbitrária que essa discussão está sendo conduzida”, frisou.
Padre Raimundo reforçou a necessidade do diálogo afirmando que a população do seu município está apreensiva. “Ninguém sabe de nada. É algo que está sendo imposto distante do povo. Muitas pessoas já estão até desanimadas com essa possibilidade. Se tirar a BR, mais de 150 famílias não terão mais condições de sobrevivência. Queremos a criação de um grupo de trabalho formado por representantes das cidades e da Seinfra para que não haja essas informações desencontradas. A laranja está em crise e a situação em Cristinápolis já é extremamente difícil”, alertou.
Em relação a Umbaúba, o prefeito mostrou um cadastramento da Secretaria Municipal de Assistência Social apontando que 857 famílias sobrevivem graças ao comércio na BR 101. “Você coloque uma média de quatro pessoas por família, isso dá mais de 3.500 habitantes só em nosso município. É essa situação que nós precisamos de espaço para mostrar”, esclareceu.
PREJUÍZOSAs informações desencontradas já ocasionaram o primeiro prejuízo para Umbaúba. Na coletiva, Anderson Farias mostrou um documento assinado pelo empresário Joemir Gentil Mocellin, proprietário do posto de combustível Reforço 2, às margens da BR 101 e considerado o maior do Norte-Nordeste, que deixou claro que, por motivo do impasse sobre o roteiro exato da rodovia federal, estaria paralisando os investimentos previstos para este ano.
De acordo com o documento, o empresário determinou a paralisação da reforma do posto Reforço 2 avaliada em R$ 3 milhões e a suspensão das negociações para a construção de mais um posto, localizado às margens da BR 101 próximo ao acesso a Cristinápolis, orçado em mais de R$ 6 milhões, ambos em parceria com a Petrobras.
“O empresário deixou claro que, caso ocorra o desvio, ele deixará de investir R$ 9 milhões em Umbaúba e vários postos de trabalho deixarão de ser gerados. Isso é um prejuízo enorme para o município, que é pobre e necessita da parceria da iniciativa privada para a geração de empregos e renda”, advertiu o prefeito.
MAIS CARA
Outro dado apontado por Anderson Farias foi com relação ao custo da obra passando por fora dos dois municípios. Com base em um estudo de levantamento dos valores dos imóveis e dos terrenos localizados numa extensão de 3km em todo o lado direito da BR passando pela região urbana de Umbaúba, que seguiu os mesmos critérios adotados pela Caixa Econômica Federal, o prefeito revelou que as indenizações chegariam a pouco mais de R$ 7 milhões.
“O detalhe é que o próprio laudo que nós temos para atingir a largura necessária para a duplicação de 150 metros do lado direito, isso se nós colocarmos 30% em cima do valor previsto, daria um total máximo de R$ 2,5 milhões. Acredito que Cristinápolis não seria diferente. Ou seja, para desapropriar as duas áreas urbanas, seriam necessários R$ 5 milhões. Pelo modelo que está sendo proposto pela Seinfra, haveria necessidade de 6 viadutos, sendo 3 em Umbaúba e 3 em Cristinápolis. Colocando por baixo cada viaduto desse no valor de R$ 6 milhões, conforme já conversei com alguns engenheiros, só isso aí já daria mais de R$ 18 milhões. Sem contar com algumas pontes que serão necessárias. Deixar de gastar R$ 5 milhões para gastar R$ 18 milhões é uma conta que não fecha e não dá para entender”, questiona Anderson Farias.
Os gestores comunicaram que ainda essa semana estarão participando de reuniões públicas com a comunidade para informar sobre o andamento do processo de duplicação. Em Cristinápolis, o encontro será amanhã (quarta-feira), no Clube Municipal, a partir das 19h. Em Umbaúba, a população volta a se reunir na sexta-feira, 1º de abril, às 19h30, na praça de eventos. “Conheço o perfil democrático do governador Marcelo Déda, sou filiado ao PT, e por isso acredito que ele irá nos chamar para o diálogo. Precisamos tranquilizar a população da região para evitarmos o pior”, enfatizou Anderson Farias.

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