"Sem medo da verdade."

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O PAPEL DOS MENTIROSOS NA POLÍTICA‏

Em qualquer situação, mentir é, certamente, um dos mais graves erros que se pode cometer na vida publica. Mais que um erro, mentir é uma falha ética grave. Implica conseqüências muito sérias. Existem mentiras que muito dificilmente são perdoadas. São aquelas que ocorrem entre indivíduos que não se conheciam pessoalmente, mas que de alguma forma se uniram por um ato de fé e confiança. Este é o caso da mentira na política. A mentira é sempre um rompimento unilateral da confiança até então existente. É o rompimento de um pacto de honra que destrói a confiança daquele que foi alvo da mentira.
  Otto Von Bismarck estadista Alemão (1815-1898) dizia que “as pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra e antes de uma eleição”. Bismarck entendia bem de guerra, caça, eleição e mentira. Primeiro chanceler do império alemão, patrono do sufrágio universal em seu país, foi idealizador do primeiro sistema de previdência social do mundo e um magistral manipulador de vaidades. Exageros, citações tiradas do contexto, omissões, montagens maliciosas de imagens do adversário, mentiras, falsificações e fraudes fazem parte do espetáculo eleitoral desde que as sociedades decidiram por essa forma de escolha dos governantes. O psicólogo americano Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia, calcula que, no decorrer de um dia normal qualquer (fora de períodos eleitorais), uma pessoa escuta, vê ou lê duas centenas de mentiras – uma inverdade a cada cinco minutos. A maioria delas são inofensivas mentiras sociais que ajudam a harmonizar as relações interpessoais no cotidiano. “Seu corte de cabelo ficou ótimo” ou “o trânsito estava um caos, por isso me atrasei” constituem exemplos clássicos. Só uma pequena porcentagem é de mentiras que machucam ou ocasionam prejuízo material ou moral aos outros. Em tempos eleitorais, a taxa de mentira se multiplica geometricamente. Mas também na vida pública existe uma gradação do potencial destrutivo das mentiras. Elas podem variar de uma omissão necessária e justificável até uma fraude com o efeito de enriquecer pessoas e grupos.
   “Um político de sucesso, com muitos anos de carreira, foi obrigado a aprender a mentir de um modo tão profissional diante das câmeras que a imensa maioria das pessoas e mesmo os profissionais do comportamento humano não são capazes de detectar seus deslizes”, disse Paul Ekman, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, considerado o maior especialista mundial em detecção de mentira, campo a que se dedica há trinta anos. Políticos se equiparam aos atores na capacidade de fingir. Fingem que gostam de pobres, distribuem cartilhas de promessas, prometem dar casas aos pobres do mesmo modo  como o apresentador Gugu Liberato atua na Rede Record, prometem terceiro turno na saúde ,prometem  não atrasar salários de servidores. Tanto político como ator  mentem por necessidade profissional. Profissionais treinados são capazes de perceber em mais de 70% dos casos, em grupos controlados de estudo, se uma pessoa comum está mentindo. “Quando fazemos o mesmo estudo tendo como voluntários políticos e atores, a taxa de acerto cai para menos de 10%”, relata o professor Ekman. No caso de atores e poetas, quanto mais completamente eles mentem, melhor fica o espetáculo para o distinto público. No caso dos políticos é outra história – e não obrigatoriamente ruim para sua biografia. No mundo político, a mentira requer uma análise mais complexa. Para começo de conversa, a mentira política nasceu como irmã gêmea da democracia na Grécia antiga. “Em outras situações, a mentira diminui e macula a alma. Mas ela é permitida quando é proferida no interesse do Estado”, escreveu o filósofo grego Platão, que viveu no século IV a.C., o dos grandes dramaturgos, poetas e políticos que lançaram as bases da civilização ocidental.
 Antes de atirar a primeira pedra, aconselham estudiosos da mentira, é bom lembrar que todo mundo mente. A civilização foi construída sobre uma sólida base de mentiras, falsidades e conceitos abstratos aceitos como verdadeiros sem que se tenha deles a mais pálida constatação de veracidade. Não foram apenas as grandes religiões que se espalharam pelo mundo tendo como impulso primordial a fé e, para ilustrá-la aos novos convertidos, uma galeria de fatos altamente improváveis e certamente não comprovados, como homens que voam, mártires que vencem sozinhos Exércitos inteiros e guerreiros valorosos recompensados no céu com virgens, manjares e néctares. “A mentira esteve a ponto de destruir a humanidade em diversas ocasiões, mas pode-se dizer que foi ela que nos trouxe até aqui”, diz o biólogo Alan Grafen, estudioso do comportamento humano. Grafen concentrou seus estudos no papel da mentira na evolução humana. Ele concluiu que a mentira social é sintoma de equilíbrio numa sociedade avançada. Quanto mais interdependente o convívio entre os pares, maior a necessidade da mentira. “Chamemos de alta diplomacia, mas no Vaticano e na Organização das Nações Unidas, por exemplo, a mentira é o amálgama que ajuda essas instituições a não se espatifar nas crises”, declara Grafen. O biólogo faz uma observação cuja confirmação pode ser obtida no dia-a-dia dos casamentos, do mercado e da política. “Para que cumpra seu papel apaziguador e conciliatório, a mentira exige que a honestidade prevaleça como a característica mais valorizada pelo grupo social”, diz Grafen. Ou seja, a mentira para ser socialmente útil precisa ter “pernas curtas e nariz longo”, como dizia Gepeto, o pai do Pinóquio, na história infantil criada pelo italiano Carlo Collodi no século XIX. A falsidade deve ser tolerada apenas como contraponto da verdade, sugere o biólogo. Da mesma forma que a virtude só pode ser devidamente exaltada quando se sabe da existência e das tentações do pecado. É verdade. Como se identificariam os santos se ninguém na humanidade pecasse? “Quando passa de certos limites, portanto, a mentira tem de ser punida. Se ela começa a se tornar dominante, a sociedade, sem se dar conta, caminha para a extinção”, observa Grafen. E quais seriam esses limites? Os estudiosos se calam sobre isso, mas a pista pode ser encontrada no bom senso. As mentiras aceitáveis se distinguem das inaceitáveis da mesma forma como o erotismo se diferencia da pornografia. É aceitável esconder de um velho tio uma doença terminal. Quase todos os pedagogos dizem que os pais devem mentir aos filhos pequenos quando eles querem saber precocemente sobre sexo. Maridos mentem para as mulheres e elas para eles sobre suas fantasias românticas com outros parceiros. “No fundo existe uma resposta mais cínica para a pergunta sobre qual mentira é inofensiva: aceitável é a mentira que nunca é descoberta”, afirma o psicólogo Jellison. “O lado bom da história é que cedo ou tarde toda grande mentira de um relacionamento interpessoal é descoberta. Em geral, porque o mentiroso se entrega.”
  Depois de três décadas de estudo sobre como detectar a mentira, o professor Ekman desenvolveu um método de apontar mentirosos que foi adotado pelo FBI, a polícia federal americana, e por inúmeros departamentos estaduais de polícia dos Estados Unidos. Quando se trata de um mentiroso envolvido em crime, o método do FBI tem tido uma taxa razoável de sucesso, em torno de 70%. Mas talvez a conclusão mais interessante desse tipo de abordagem seja a que envolve a mentira no cotidiano. “Tenho prazer em dizer que depois de tantos anos de estudo minha maior descoberta foi que nós, seres humanos, não somos mentirosos perfeitos. Entretanto, ao contrário do que imaginava Sigmund Freud, detectar sem erros a mentira é uma tarefa muito complexa e talvez inútil”, observa Ekman. “Mentir com imperfeição é fundamental para nossa existência em sociedade.” Estudiosos do comportamento animal concluíram que os bichos também mentem, fingem e disfarçam emoções. Quanto mais próximos da linhagem humana, eles se tornam mentirosos mais eficientes. Orangotangos e gorilas são os símios geneticamente mais aparentados com o homem. São também os maiores fingidores do reino animal. A mentira é um dos traços da humanização. O homem é incapaz de mentir até os 3 meses de idade. Os primeiros truques para chantagear mamãe e papai afloram depois dessa idade. “Viver sem mentira seria insuportável”, afirma a psicóloga Mary Ann Mason. “Equivale a casar, trabalhar e conviver, enfim, com pessoas cujas emoções pararam de amadurecer quando elas tinham 3 meses de idade.”
  Embora apareça sempre na literatura e nas parábolas morais como um desvio de caráter, a mentira não foi classificada como um dos sete pecados capitais pelos codificadores da fé católica. A gula, a luxúria e a preguiça estão na lista dos pecados que levam os crentes católicos direto para o inferno. Também são capitais os pecados da ira, da avareza, da soberba e da inveja. A mentira, não. Sem a mentira a vida seria um inferno. “Se nunca pudéssemos mentir, se todos os sorrisos fossem confiáveis e se todos os olhares fossem facilmente decifráveis, a convivência humana seria impossível em casa, no trabalho, em sociedade”, escreveu Mary Mason.
   Segundo os psicólogos, existem nove razões principais para que alguém minta ou resolva omitir informações. Os políticos, na avaliação do psicólogo, formam a categoria de pessoas que têm mais razões para mentir, sair-se com evasivas ou omitir dados. Numa lista de motivações para mentir, os políticos podem ser incluídos em pelo menos cinco. Eles mentem para “fugir de um castigo”, para “obter uma recompensa que lhes seria negada se dissessem a verdade”, “para ser admirados”, “para evitar constrangimentos” e “para manipular”.
"Neste ano de de campanha eleitoral em Sergipe, convém recordar o decálogo que escreveu Joseph Goebbels, ministro da propagandado Governo de Hitler

1)    Princípio de simplificação e do inimigo único. Adotar uma única idéia; um único símbolo; individualizar o adversário em um único inimigo.

2)    Princípio do método de contágio: Reunir os adversários em uma só categoria ou indivíduo. Os adversários tem de constituir-se em suma individualizada.

3)    Princípio da transposição. Atribuir ao adversário os próprios erros ou defeitos, respondendo o ataque com o ataque: “Se não podes negar as más notícias, inventa outras que as distraiam”.

4)    Princípio do exagero e desfiguração: Converter qualquer anedota, por pequena que seja, em ameaça grave.

     5) Princípio da vulgarização: “Toda propaganda deve ser popular, adotando seu nível ao menos  inteligente dos indivíduos, aos que se dirige. Quanto maior seja a massa a convencer menor há de ser o esforço mental a fazer. A capacidade de entendimento das massas é limitada e sua compreensão rara; além do mais tem grande facilidade para esquecer.

      6) Principio de orquestração: “A propaganda deve limitar-se a um número pequeno de ideias e repetí-las incansavelmente, apresentando-as de diferentes perspectivas; mas sempre convergindo sobre o mesmo conceito. Sem ranhuras nem dúvidas”. Daquí vem também a famosa frase: “Se uma mentira se repete suficientemente, acaba por converter-se em verdade”.

      7) Principio de renovação: Emitir constantemente informações e argumentos novos a um ritmo tal que, quando o adversário responda, o público está já interessado em outra coisa. As respostas do adversário nunca devem poder contrariar o nível crescente de acusações.

       8) Principio da verossemelhança: Construir argumentos a partir de fontes diversas, através dos chamados balões de ensaios ou de informações fragmentadas.

      9) Principio do silêncio: Calar sobre as questões das quais não se tem argumentos e encobrir as noticias que favorecem o adversário; também contraprogramando com a ajuda de meios de comunicação afins.

    10) Principio da transfusão: Por regra, a propaganda opera sempre a partir de um substrato preexistente, seja uma mitología nacional ou um complexo de ódios e prejuízos tradicionais. Se trata de difundir argumentos que possam se nutrir em atitudes primitivas.

     11) Principio da unanimidade: Convencer muita gente que se pensa “como todo o mundo”, criando impressão de unanimidade.
POR ELIAKIM ARARUNA

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