"Sem medo da verdade."

segunda-feira, 12 de março de 2012

Promiscuidade Partidária

Na vida sexual, o termo promiscuidade está relacionado à frequência da troca de parceiros ou ao acúmulo deles. Na vida política, pode significar mudanças frequentes de partido, algo que tem acontecido em larga escala nos dias atuais. Num tempo em que o que vale é o próprio umbigo, políticos mudam de partido como se muda de roupa íntima e seguem em busca daquela legenda que melhor acolhe seu projeto pessoal, seus interesses individuais. Projeto coletivo? O que é isso mesmo?
Não tenho a intenção de apontar quem tem protagonizado cenas explícitas de promiscuidade partidária. Aliás, é mais diplomático usar o termo “infidelidade partidária”. Não seria inteligente me indispor com minhas fontes, a menos que seu comportamento implicasse diretamente em desvio de dinheiro público ou ilicitudes que acarretassem outros prejuízos para a sociedade. Os olhos do eleitor estão bem abertos para registrar o troca-troca e não preciso ser eu a encarnar o papel de delatora dos promíscuos. Até porque os fatos sobre a “migração” de partido são noticiados diariamente pelos veículos de comunicação.
O Brasil conta, hoje, com 27 partidos políticos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas amanhã o quadro pode mudar. Alguns são claros quanto as suas bandeiras. Outros, nem tanto. Uns preferem assumir a oposição, outros querem ficar na base governista. Há ainda aqueles que não se identificam nem com a oposição, nem com a base, daí resolvem criar uma terceira via: o bloco dos “independentes”. Outro grupo de partidos, formado por aqueles avessos a tudo e a todos, assiste ao jogo político de camarote.
Mas falemos sobre a tal da fidelidade partidária, ou melhor, da infidelidade, algo mais intrigante na nossa realidade. Os infiéis podem se manifestar de duas formas: quando o parlamentar vota de forma contrária ao que é acordado dentro do partido, ou quando há migração para outra legenda para obter êxito nas eleições. O segundo caso, é claro, acaba sendo bem mais interessante aos olhos da imprensa, já que, na primeira situação, não paira sobre o infiel o fantasma da perda do mandato, o que invariavelmente acontece com a segunda.
Por isso, mesmo estando descontente com o partido, é necessário ter cautela ao pedir a desfiliação. Afinal, quem quer perder o mandato para o partido pelo qual foi eleito? Quem quer deixar de desfrutar das regalias do poder, uma fonte que parece rica e inesgotável? No entanto, há aqueles que resolvem pedir a desfiliação ao verem na Justiça uma forma de manter a “mamata”. E, de fato, muitas vezes, acabam tendo sucesso. Daí, ficam os partidos ensandecidos atrás de garantir uma forma de ter de volta aquilo que foi seu porque, no jogo político, um cargo não é conquistado pela pessoa, mas sim pelo grupo do qual ela fez parte.
Apesar de confundir e assustar os eleitores, o vai e vem de políticos enche os jornais de notícias. Já pensou o que seriam das colunas sem essa movimentação? Já imaginou o que seriam dos jornalistas sem essa variação política. A cobertura seria um marasmo danado. O bom mesmo é ver o circo pegar fogo, é ver as trocas de 'amabilidades' por todos os lados. Apesar de ser um quadro desagradável e desnecessário, é essa promiscuidade que dá à política brasileira um quê de peculiar. Afinal, filiação a um partido político é como casamento: só é para sempre em algumas situações, as exceções. Em outras, se torna bem mais interessante experimentar vários relacionamentos. Mas, na política partidária, não há espaço para relação aberta. De acordo com a legislação, infidelidade é pecado capital. O incrível é que no Brasil, até para isso dá-se um jeitinho.
* Amanda Barboza é jornalista e repórter do Política Hoje.

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