A
fragmentação do processo eleitoral e o enfraquecimento dos partidos
produziram um crescente desencanto nos brasileiros para com os políticos
detentores de mandatos. A verdade tem cedido lugar ao oportunismo. Ao
estelionato eleitoral. Candidatos prometem o céu e, no exercício do
cargo, esquecem completamente os compromissos assumidos. Não há como se
acomodar diante dessa tragédia. As pessoas de bem, quando muito,
preferem manter distância da vida pública.
Um
candidato a um cargo político entra em desespero perante a população
quando está em descrença e em alto índice de rejeição nas pesquisas
eleitorais. A partir desse momento, tudo é válido para se eleger em uma
campanha política e se inicia a articulação do estelionato eleitoral.
Para reverter esse quadro, os candidatos contratam profissionais do ramo do marketing
e da publicidade e, como são de grande competência, eles efetuam uma
pesquisa para avaliar a necessidade da população. A partir desse
momento, começam as promessas e a elaborá-las com base nessas
necessidades para envolver o pensamento do povo, fazendo-o acreditar que
as carências serão resolvidas e aí começa o avalanche de promessas
carregadas de um certo ilusionismo que se equipara as mágicas do
ilusionista Mister M e David Copperfield.
Porém,
todo esse processo tem um alto custo e eles dão início aos “negócios”
baseados nas empresas e nos empresários que têm interesse na possível
gestão para poderem retirar proveito do dinheiro investido na campanha
eleitoral. Nesse momento, os políticos e empresários se confraternizam
em torno do interesse dos votos da população para sua eleição ou
reeleição.
Começam,
então, a aparecerem verbas justamente nessa época eleitoral, mas o
início das aquisições ou das obras nunca serão concretizadas. Sabemos
que existe campanha na qual o candidato gasta mais do que vai ganhar em
toda a sua gestão. O que existe por trás disso? Depois começa a famosa
panfletagem, as cartilhas de promessas que, por sinal, poucos guardam a
cartilha para cobrar do candidato eleito.
De
volta ao estelionato eleitoral, uma nota promissória, um cheque, um
boleto, etc., são promessas de pagamento. Nesse sentido, porque uma
cartilha com promessas de campanha, prometendo saúde, transporte,
moradias, obras, empresas, indústrias, escolas, etc., não têm valor
legal algum? Se um profissional faz algo com a intenção de lesar alguém,
ou o que ele não irá cumprir, ele será processado na forma da lei.
Se
um cidadão fizer uma promessa de pagamento e não cumpri-la, seu nome
irá para o SPC, SERASA e para outros órgãos competentes e esse indivíduo
sofrerá discriminação perante a sociedade da qual ele precisa, e mesmo
vivendo sob o intuito de ser cidadão será taxado de estelionatário.
Qual
a diferença entre um político que elabora o seu plano de governo e um
cidadão julgado pela lei do estelionato? Pois aquele divulga-o em carros
de som, transcreve-o em milhares de cartilhas afirmando tudo o que fará
e, inclusive, coloca a sua foto e traz para si a responsabilidade de
tais atos, demonstrando-os para milhares de eleitores, os quais
acreditam nas promessas, pois tem até a foto e a assinatura do
candidato.
Então
votam nele, ele se elege e as promessas não são cumpridas. Por que nada
acontece com eles? Deveriam passar por uma maior cobrança em relação às
promessas não cumpridas, pois prometer caracteriza-se como um
estelionato eleitoral, ou seja, eleger-se com base nas promessas e não
cumpri-las.
Toda
campanha política com seus relatórios de promessas deveriam ser
registradas em cartÓrio para ser fiscalizada posteriormente. De outro
lado, com relação aos políticos, estes devem ter consciência de que não
são donos da cidade nem da Prefeitura Municipal, mas simplesmente
funcionários públicos temporários. Posteriormente poderão ser reeleitos
para uma nova gestão. Isso depende do povo. Com relação ao eleitor, o
voto tem o mesmo valor na urna, ou seja, não há diferença entre alguém
possuir milhares de reais em patrimônio ou nada possuir. A urna não
discrimina o rico ou o pobre, pois têm o mesmo valor.
Agora
façamos a seguinte pergunta: de quem é o direito de cobrar promessas
não cumpridas? De quem vota ou de quem é votado? Os maus políticos serão
sempre marcados pelas ações que nunca conseguiram executar, e não pelo
que ajudaram a construir, muitas vezes usufruindo do poder público.
Este, é o verdadeiro estelionato eleitoral e a verdadeira ou a falsa
personalidade de certos políticos em nosso país.
HÉLIO DUTRA
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