Na
vida sexual, o termo promiscuidade está relacionado à frequência da
troca de parceiros ou ao acúmulo deles. Na vida política, pode
significar mudanças frequentes de partido, algo que tem acontecido em
larga escala nos dias atuais. Num tempo em que o que vale é o próprio
umbigo, políticos mudam de partido como se muda de roupa íntima e seguem
em busca daquela legenda que melhor acolhe seu projeto pessoal, seus
interesses individuais. Projeto coletivo? O que é isso mesmo?
Não
tenho a intenção de apontar quem tem protagonizado cenas explícitas de
promiscuidade partidária. Aliás, é mais diplomático usar o termo
“infidelidade partidária”. Não seria inteligente me indispor com minhas
fontes, a menos que seu comportamento implicasse diretamente em desvio
de dinheiro público ou ilicitudes que acarretassem outros prejuízos para
a sociedade. Os olhos do eleitor estão bem abertos para registrar o
troca-troca e não preciso ser eu a encarnar o papel de delatora dos
promíscuos. Até porque os fatos sobre a “migração” de partido são
noticiados diariamente pelos veículos de comunicação.
O
Brasil conta, hoje, com 27 partidos políticos, segundo dados do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas amanhã o quadro pode mudar.
Alguns são claros quanto as suas bandeiras. Outros, nem tanto. Uns
preferem assumir a oposição, outros querem ficar na base governista. Há
ainda aqueles que não se identificam nem com a oposição, nem com a base,
daí resolvem criar uma terceira via: o bloco dos “independentes”. Outro
grupo de partidos, formado por aqueles avessos a tudo e a todos,
assiste ao jogo político de camarote.
Mas
falemos sobre a tal da fidelidade partidária, ou melhor, da
infidelidade, algo mais intrigante na nossa realidade. Os infiéis podem
se manifestar de duas formas: quando o parlamentar vota de forma
contrária ao que é acordado dentro do partido, ou quando há migração
para outra legenda para obter êxito nas eleições. O segundo caso, é
claro, acaba sendo bem mais interessante aos olhos da imprensa, já que,
na primeira situação, não paira sobre o infiel o fantasma da perda do
mandato, o que invariavelmente acontece com a segunda.
Por
isso, mesmo estando descontente com o partido, é necessário ter cautela
ao pedir a desfiliação. Afinal, quem quer perder o mandato para o
partido pelo qual foi eleito? Quem quer deixar de desfrutar das regalias
do poder, uma fonte que parece rica e inesgotável? No entanto, há
aqueles que resolvem pedir a desfiliação ao verem na Justiça uma forma
de manter a “mamata”. E, de fato, muitas vezes, acabam tendo sucesso.
Daí, ficam os partidos ensandecidos atrás de garantir uma forma de ter
de volta aquilo que foi seu porque, no jogo político, um cargo não é
conquistado pela pessoa, mas sim pelo grupo do qual ela fez parte.
Apesar
de confundir e assustar os eleitores, o vai e vem de políticos enche os
jornais de notícias. Já pensou o que seriam das colunas sem essa
movimentação? Já imaginou o que seriam dos jornalistas sem essa variação
política. A cobertura seria um marasmo danado. O bom mesmo é ver o
circo pegar fogo, é ver as trocas de 'amabilidades' por todos os lados.
Apesar de ser um quadro desagradável e desnecessário, é essa
promiscuidade que dá à política brasileira um quê de peculiar. Afinal,
filiação a um partido político é como casamento: só é para sempre em
algumas situações, as exceções. Em outras, se torna bem mais
interessante experimentar vários relacionamentos. Mas, na política
partidária, não há espaço para relação aberta. De acordo com a
legislação, infidelidade é pecado capital. O incrível é que no Brasil,
até para isso dá-se um jeitinho.
* Amanda Barboza é jornalista e repórter do Política Hoje.
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