A
política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si
mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a
previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre
nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o
desprezo do objeto signifi-cadoNão há dúvida que rima bem com criadagem
e parola-gem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de
expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado?
Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo
pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância
elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se
relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam
mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos,
regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é
a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a
política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é
o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si
mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos
povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis.
A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a
malária dos povos de moralidade estragada.
POR RUI BARBOSA
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