Todo político teme perder. Seja o próprio poder ou mesmo um debate, uma oportunidade, uma eleição, seus aliados e assessores. E como fica Zé Carlos Machado nessa tentativa de aliança de PT de Itabaiana com Luciano Bispo e uma possível aproximação de Luciano com Déda ? O bom senso diz que não é bom ultrapassar a fronteira da sua confiança ou os problemas serão muitos - e quase sempre irreversíveis.
Os
mundos da política e da vida privada são muito diferentes entre si,
mas mantêm indiscutível relação. Que não se resume a transferir
automaticamente um padrão de comportamento, na sua integralidade e
pureza, de uma esfera para a outra: alguma modificação sempre ocorre,
seja para alterar significados, inverter efeitos ou até preservar
características. O ambiente do jogo do poder é sempre muito disputado e
atraente para quem é populista e detentor de uma grande fatia de votos
do eleitorado.
Na política, um dos sentimentos mais fortes com o qual tem que se lidar é o ciúme.
O político é um ser competitivo, ambicioso, aquisitivo e treinado
para a luta. Inevitavelmente insatisfeito e inseguro, ama, odeia,
esquece, despreza, bajula, briga e reconcilia-se com enorme facilidade e
freqüência. Acima de tudo, é territorial e possessivo: defende seu
espaço (num amplo sentido, como tudo o que considera seu)
aguerridamente e desenvolve extremo apego às pessoas que trabalham
junto dele e também a seus apoiadores. Seu ambiente de atividade é
naturalmente disputado. Assim como quer ampliar seu patrimônio
político, os concorrentes também o querem. E só há uma maneira de
multiplicar esses bens: atraindo os eleitores dos adversários. Nesse
meio carregado de incertezas e inseguranças, no qual os apoios e
alinhamentos são acertados pela palavra - sempre uma frágil garantia - a
competição é permanente e incessante. Só que nesse jogo predatório do
poder existe uma equação que deve ser pensada. Estará sendo vantajoso
politicamente atrair antigos adversários do PT e desprezar aliados,
como no caso do ex deputado Zé Carlos Machado e seu genro Carlos Eloy
? E ainda para completar o pano de fundo de colorido paroquial, que
subterfúgio o alcaide municipal dirá em campanha eleitoral para
camuflar pro eleitor que carrega nas costas uma administração
desastrosa, anacrônica, provinciana e obsoleta como essa que está aí
do Sr, Luciano Bispo? Pela opinião pública está sendo o pior de todos
os mandatos dele como gestor municipal. Machado sempre apoiou
logisticamente Luciano Bispo e também o apoiando em várias esferas do
poder, e colocando sua emissora de rádio a serviço do marketing
eleitoral lucianista , inclusive indicando a Dra. Lourdes Machado
como sua atual vice-prefeita. É bom lembrar que Luciano Bispo só gosta
dos seus vices até o dia da eleição. Até o salário dos vices ao longo de
sua trajetória como prefeito está provado que ele detestou pagar os
vencimentos. Mas por status do cargo tem gente que pretende a vaga de
vice e não vai se incomodar de ficar sem receber salários.
Como
não pode saber, com segurança, a extensão das perdas e traições que
ocorrem na sua base de apoio, o político torna-se uma pessoa de
exacerbada sensibilidade com sua imagem e os sinais de perigo. Dentre
estes, talvez o mais assustador seja o que diz respeito à lealdade de
auxiliares e apoiadores. Nenhum princípio é mais valioso para um
político do que esse. Havendo lealdade, tudo é perdoado. Inexistindo,
nada é tolerado. O sentimento que vigia a lealdade é o ciúme,
um sentinela ativo e sofisticado do comportamento do colaborador ou da
pessoa adorada. Ele desenvolve técnicas de observação sutis, capazes de
identificar qualquer afastamento, por mínimo que seja, do padrão
esperado e previsto. Emprega testes dissimulados para avaliar a
consistência da lealdade. Exige explicações detalhadas para fatos e
atitudes que deixaram dúvida. Possui alvos classificados como perigosos
(pessoas com as quais o auxiliar poderia tramar e trair sua confiança)
e a qualquer momento pode incluir outros tipos potencialmente
perigosos. Nenhum
princípio é mais valioso para um político do que a lealdade, sempre
vigiada de perto pelo ciúme. A presença do vereador Olivier Chagas, ex
aliado do grupo Teles de Mendonça, e agora aliado no agrupamento de
Luciano Bispo, está causando uma ciumeira medonha nos asseclas do
agrupamento Lucianista, inclusive empresários e vereadores que também
pleiteiam também a vaga de vice na disputa eleitoral. Alguns analistas
políticos dizem que com a aprovação da lei da Ficha Limpa no STF e
Olivier sendo eleito vice prefeito de Luciano Bispo , os objetivos e os
caminhos políticos pretendidos por Olivier para chegar ao cargo de
prefeito ficam mais fáceis de serem alcançados. É o xadrez da
política. Quem trabalha com um político percebe o quanto o ciúme
ocupa a sua mente e orienta a sua observação. Períodos eleitorais,
então, são momentos críticos, nos quais esta preocupação acentua-se. O
ciúme depende sempre da existência de um triângulo cujos
elementos são sempre os mesmos: uma relação de lealdade que une duas
pessoas e um competidor que pretende atrair para si o colaborador que
não participa da disputa direta. Quem
trabalha com um político jamais deve subestimar a força e o poder do
ciúme nas relações com seu chefe. Acostumado a presenciar traições, o
político dificilmente desenvolve uma confiança absoluta e irrestrita
nos outros. O tempo passa, as pessoas mudam e o risco está sempre
presente. Por outro lado, fazer política é envolver-se numa ação
coletiva e competitiva. Portanto, não é possível ter sucesso sem pelo
menos tentar confiar nos novos aliados do PT, amigos, auxiliares e
apoiadores. É em meio a esses dois pólos que navega a psicologia do
político. E entre a necessidade de confiar e o risco de confiar, vence a
primeira. Em conseqüência, aquela sensibilidade intensifica-se-se sob a
forma de ciúme para vigiar a lealdade. E para Zé Carlos Machado que
também é um político sereno, astuto, perspicaz e inteligente fica a
observar os acontecimentos. Como dizia o cantor Zé Geraldo “ ... Tudo
isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos..”
POR JOELMO BETTON
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